terça-feira, 2 de novembro de 2010

Palavra do Mês


ALIANÇA DE MISERICÓRDIA
Palavra do mês Novembro/2010

“DOIS DELES VIAJAVAM NESSE MESMO DIA”

Esta palavra tem o poder de transformar a nossa vida numa contínua Páscoa. De fato, este “mesmo dia” de que Lucas nos fala no trecho dos discípulos de Emaús é a própria Páscoa.
A Páscoa, como estamos meditando à luz desta Palavra, não é apenas um dia na história da humanidade, mas o começo de “um dia”, do “novo tempo” que se encerrará nos fins do mundo: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação de todos os séculos!” (Mt 28, 20).
Jesus ressuscitado caminha conosco: “Ele é a nossa Páscoa!” (cf. 1Cor 5, 7). Lembro-me de uma jovem de Belo Horizonte que começou a fazer a experiência do perdão em sua família e do amor recíproco com seus pais e irmãos. A convivência familiar, que antes era um “inferno”, transformou-se num “paraíso” e a presença de Jesus uniu os corações de tal forma que ela me procurou entusiasmada e disse: “Padre, agora entendi a Páscoa! Eu não quero viver a Páscoa apenas, eu quero viver sempre em estado de Páscoa! É maravilhoso! Decidi amar sempre a todos! Quero servir, dar atenção a cada um... o amor suscita amor! Hoje sentimos, quase fisicamente, Jesus Ressuscitado no meio de nós,em família, e cada um faz o possível para permanecer no amor recíproco que revela a sua presença!”
Como permanecer, então, em “estado de Páscoa”?
 “Dois deles viajavam nesse mesmo dia...” ( Lc 24, 13)
Jesus se revela na comunhão! Toda a Palavra nos revela que a comunhão é a natureza mais profunda do homem, criado à imagem e semelhança de Deus-Trindade, comunhão de amor (cf. Gn 1, 26-27). Por isso “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2, 18). No livro do Eclesiastes se lê: “Mais valem dois do que um só... porque, se caem, um levanta o outro; quem está sozinho, se cai, não tem ninguém para levantá-lo... alguém sozinho é derrotado, dois conseguem resistir, e a corda tripla não se rompe facilmente” (Ecl 4, 9-12). E, ainda, nos provérbios: “o irmão ajudado pelo irmão é como uma fortaleza (Pr 18, 19). Eis porque Jesus enviava os discípulos “dois a dois”, à sua frente, “a toda cidade e lugar onde ele próprio devia ir” (Lc 10, 1b), porque aí Ele se faz presente: “...onde dois ou três estiverem reunidos no meu nome, ali estarei eu no meio deles” (Mt 18, 20).
“Dois ou três...”, que preciosidade este segredo!
“Quando tu queres conquistar uma cidade – dizia Chiara Lubich – procura dois ou três irmãos para ‘acordar-te’, porque, ‘se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir isto lhes será concedido por meu Pai’ (Mt 18, 19) e Jesus, presente na unidade dos irmãos, levará ‘fogo’ sobre a cidade e se alastrará ai um incêndio de amor! (cf. Lc 12, 49). “
Este é o pacto que suscitou e sustenta a Aliança de Misericórdia. Desde que descobrimos, com Pe. Antonello, a  força deste “acordar-se”, desta unidade “no seu nome”, decidimos não poupar nenhum esforço para manter a “concórdia que une as pessoas e contém o Filho de Deus” (Orígenes de Alexandria) e nunca darmos nenhum passo sem estarmos unidos em nome de Jesus.
Como gostaríamos que cada membro e amigo da Aliança fizesse própria esta experiência, para “levar este fogo sobre a terra”!
“Dois deles viajavam nesse mesmo dia...” (Lc 24, 13)
Procura, então, um ou dois irmãos para caminhar junto com eles e experimentar a beleza e a força desta unidade. Declara a eles o teu amor no pacto de dar a vida uns pelos outros e procura “acordar-te” com eles, buscando esta comunhão “...no mesmo sentimento, no mesmo amor, numa só alma, num só pensamento” (Filipenses 2, 2).
E, aqui, entenda bem uma coisa: a Palavra fala dois ou três, unidos no nome de Jesus (Mt 18, 20). O que isto comporta?
Biblicamente, “nome” significa senhorio, autoridade, vontade. O dono dava seu nome às coisas e pessoas de sua propriedade. Em outras palavras, “unidos no nome de Jesus” significa na vontade dele, debaixo do seu senhorio, unidos na sua lei, na sua Palavra. E qual a sua vontade senão o novo mandamento que Jesus nos deixou? “Amai-vos uns aos outros(...) Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 12-13).
Padres da igreja diziam que muitos estão unidos por interesses, simpatia, negócios, mas é muito difícil encontrar alguém “unido em nome de Jesus”. O que te une aos teus irmãos? O Movimento? A missão? A evangelização? Todas estas são coisas boas, mas não são ainda a unidade que Jesus pede. É preciso chegar àquele nível de unidade que permite a escolha de “dar a vida para os irmãos”! Qualquer outra motivação resistiria às decepções, aos fracassos, aos limites, provações, enfermidades, tentações, obstáculos, conflitos, contrastes, incompreensões... inevitáveis na convivência humana? Eis, então, a necessidade de renovar a escolha de Jesus Crucificado e Abandonado, a escolha de dar a vida de verdade, de amar até doer. Como dizia Madre Tereza de Calcutá, de amar até a morte!
Jesus merece esposos esposas que amem seu Abandono. Tudo que antepomos à cruz é idolatria e adultério. Até as coisas de Deus, os dons de Deus, podem tornar-se ídolos se não fizermos a escolha pela cruz! Não busquemos consolações, compreensões, gratificações. Procuremos, por vales e montes, o amado da nossa alma, que grita o seu abandono nos pobres e aflitos: reconheçamo-Lo e abracemo-Lo nos sofrimentos, fracassos, impotências, enfermidades e fraquezas e nunca, nunca, tiremos os olhos d’Ele. Então como os discípulos de Emaús, não fugiremos mais de Jerusalém, lugar da cruz e da glória, mas, abraçando a cruz, experimentaremos que esta nos leva à gloriosa experiência do Ressuscitado no meio de nós!

 TESTEMUNHO
Dias atrás, quando saía do trabalho, olhei para uma das professoras e senti vontade de dar a Palavra do Mês(de setembro) para ela, mas pensei que seria loucura, por não ter proximidade e nem saber de que religião era. O desejo de entregar-lhe a Palavra, porém, persistiu. Ainda relutante, aproximei-me e falei que queria deixar-lhe a Palavra que é o que vivíamos todo mês na Comunidade. Na hora, ela disse: “É Jesus mesmo!”, e, com os olhos cheios de lágrimas, partilhou que estava com a mãe internada na UTI e não tinha mais de onde tirar focas. Partilhamos mais algumas coisas, mas o fato é que pude ver ali que, na partilha reconhecemos Jesus.
Se, cedendo ao meu receio, eu tivesse ficado com a Palavra, nosso alimento, nem ela nem eu reconheceríamos Jesus, mas na partilha Jesus se fez presente e o reconhecemos. E o Ressuscitado foi como um bálsamo para o coração daquela professora, que sofria muito.
Inês – AIM-Salto (SP)


Pe. João Henrique

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